Presidente do Grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiyaka

Declaração Política do Grupo Parlamentar da UNITA sobre CNE 

Política

Grupo Parlamentar da UNITA

Gabinete do Presidente

Excelência,

Presidente da Assembleia Nacional,

Distintos Deputados,

Senhoras e Senhores Auxiliares do Titular do Poder Executivo,

Senhoras e senhores jornalistas,

Povo angolano.

“A história, para ser verdadeira, para constituir um verdadeiro contributo ao conhecimento humano, tem de estar despida de paixões que o próprio tempo ultrapassa e anula” – Dr. Jonas Savimbi

Excelências,

Decorridos os primeiros cem dias da nossa jornada nacional de reflexão dos 50 anos de Independência, deparamo-nos com uma NOVA ERA: o mundo mudou!

Assiste-se a uma reconfiguração da geopolítica mundial e dos interesses estratégicos das potências que ameaçam a previsibilidade e a estabilidade das relações internacionais. Os princípios da igualdade dos povos, a inviolabilidade das fronteiras dos Estados e da dignidade dos povos já não são garantidos e assegurados.

Os pilares estruturantes do funcionamento da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Mundial do Comércio (OMC), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) foram abalados. As regras subjacentes aos fenómenos da integração de mercados e da globalização da produção, definidas para garantir a sustentabilidade das vantagens mútuas nas relações comerciais, deixaram de ser respeitadas.

No nosso país, a defesa da vida, liberdade, igualdade, justiça independente, verdade eleitoral, inclusão, do tratamento igual dos partidos políticos pela imprensa pública e entidades que exercem o poder político, o direito do exercício de oposição democrática e de outros direitos humanos e garantias fundamentais foram retirados da agenda da governação do Presidente da República.

E tudo isso aconteceu praticamente durante os primeiros cem dias da nossa jornada nacional de reflexão dos 50 anos de Independência.

Senhora Presidente,

Vemos no horizonte a consolidação de ideias e tendências perigosas que ameaçam a Independência, a Soberania e o futuro do nosso País.

A Assembleia Nacional deixou de ser a casa da defesa do ideal democrático, dos direitos humanos, da paz e estabilidade nacional baseada no primado do direito e passou a ser o fórum da lavagem da impunidade e da improbidade. Denota-se uma tendência do Regime de tornar a Assembleia Nacional como o comité de especialidade das políticas, práticas e leis que alimentam a instabilidade, o descredito das instituições da República e a regressão dos referentes da democracia e do Estado de Direito.

Senhora Presidente,

Senhores Deputados,

Senhores Ministros.

As grandes mudanças nas relações internacionais convidam-nos também a redireccionar a nossa reflexão sobre os cinquenta anos de Independência.

Perante estas ameaças estratégicas à nossa Soberania e à nossa Independência, como nos devemos posicionar como Nação?

Vamos prosseguir priorizando agendas partidárias de disputas e manutenção de um poder frágil que se legitima a si próprio, por via de golpes institucionais? Ou vamos abraçar uma agenda de País, para tirar o nosso Povo da miséria e construir a nossa Angola, a Angola de todos os seus filhos?

Vamos continuar a utilizar a imprensa pública para distorcer a História e alimentar os factores de discórdia, exclusão e divisão, já utilizados pelo colonialismo para nos dividir e dominar? Ou vamos devolver a liberdade aos jornalistas para fortalecer a democracia e construir a Nação plural?

Vamos continuar a utilizar o sistema de segurança nacional e o sistema de justiça para nos perseguirmos uns aos outros? Ou vamos, de uma vez por todas, iniciar juntos a construção de um País livre, justo e democrático, onde a justiça e a segurança nacional são valores perenes de Estado, que não se confundem com objectivos partidários e efémeros?

Vamos continuar a utilizar os processos eleitorais como veículos de subversão da democracia e da

soberania popular? Ou vamos demonstrar à África e ao mundo que já amadurecemos e somos capazes de transferir o poder a quem o Povo efectivamente elegeu?

Vai o Partido do Regime demonstrar que está comprometido com a democracia, a verdade eleitoral e o respeito pela vontade soberana do Povo a ponto de abdicar do controlo dos órgãos públicos de comunicação social, do controlo da Comissão Nacional Eleitoral, do controlo dos órgãos de justiça, do controlo da economia e do espaço público? Ou vai continuar a defender a hegemonia de um Partido-Estado?

O Povo angolano saberá tirar as conclusões, já a partir desta sessão, quando discutirmos e votarmos as propostas e os projectos de lei que estão agendados e que impactam o exercício da soberania que pertence ao Povo.

Senhora Presidente,

A melhor estratégia de defesa da Soberania nacional é abraçarmos uma agenda de País, que inclui a agenda para a construção da Independência que proclamámos em 1975, mas não a construímos; a agenda para o exercício efectivo da Soberania popular, a agenda para o fortalecimento da unidade nacional, porque é a união que faz a força.

Nos últimos 50 anos, orgulhámo-nos todos de ter preservado a Independência. Porém, ainda precisamos de construi-la de facto. São as pessoas, e não o território, que precisam de se libertar em primeiro lugar. Liberdade de pensamento, liberdade de escolha, liberdade política, liberdade económica, liberdade social e liberdade cultural.

A Independência hoje não se alcança com armas bélicas, mas com as armas do conhecimento, do patriotismo e do desenvolvimento científico e social.

Quanto à Soberania que reside no Povo, este só a poderá exercer com propriedade se for instruído e se tiver o domínio das tecnologias de produção de alimentos, produção de energia, transformação industrial e protecção ambiental.

A defesa da Independência nacional e da Soberania popular reclama por uma reestruturação profunda do sistema de educação, dos sistemas de produção e das cadeias de distribuição.

Reclama, acima de tudo, pela reestruturação dos fundamentos tanto do sistema político como da economia política e do sistema financeiro. Os valores orientadores continuam a ser a dignidade da pessoa humana, a solidariedade nacional e a vontade colectiva. O objectivo estratégico central é o desenvolvimento humano dos angolanos.

Senhores Deputados,

No que respeita à agenda para o fortalecimento da unidade nacional, gostaríamos de convidar os Senhores Deputados a darmos o primeiro passo hoje, aqui mesmo nesta Assembleia.

O primeiro passo é estendermos a paz de 4 de Abril a todos os recantos das terras de Cabinda. Todos querem a paz em Cabinda. Governantes e governados, civis e militares, professores e alunos, autoridades tradicionais, todos, mas todos mesmo, desejam que a paz negociada chegue à Cabinda por via do diálogo.

Prova disso é que, por ocasião do Dia da Paz e Reconciliação Nacional, o MPLA, por exemplo, e vou citar, reafirmou a sua “incondicional vontade política em alargar a base do diálogo permanente e inclusivo sobre todos os temas e fenómenos sociais, políticos e económicos visando o reforço do processo de consolidação do Estado Democrático de Direito, fundado no respeito dos valores fundamentais constitucionalmente consagrados”.

A UNITA, por sua vez, instou “todos os patriotas angolanos a envolverem-se no sentido da recuperação do Espírito de Paz e da genuína Reconciliação Nacional, razão do simbolismo do 4 de Abril”.

Neste sentido, Senhores Deputados, apraz-nos anunciar que remetemos ontem, 22 de Abril, ao Gabinete da Senhora Presidente um Projecto de Resolução no sentido desta Assembleia recomendar ao Senhor Presidente da República para que promova o diálogo sério e abrangente para se estender a paz a Cabinda por via pacífica e negociada, e declarar a cessação incondicional e imediata das hostilidades militares em Cabinda.

Pensamos que estamos todos de acordo. Como afirmou o Presidente João Lourenço, os conflitos devem ser resolvidos por via pacífica e negociada, pelo diálogo com todos, “seja qual for a sua origem”. Não temos dúvidas nenhumas que estas palavras do Presidente da República reflectem a vontade sublime e soberana do Povo angolano, de Cabinda ao Cunene, e do Lobito ao Luau.

Apelamos, por isso, que deixemos definitivamente para trás o passado conturbado de desentendimento, de desarmonia e de discórdia que condicionou a realização de Angola como País.

Senhora Presidente,

Nas sociedades existem 4 tipos de líderes quanto à mudança:

  1. LÍDERES QUE NÃO SABEM QUANDO MUDAR E COMO MUDAR: ESTES SÃO ARRASTADOS PELAS CIRCUNSTÂNCIAS.
  2. LÍDERES QUE SABEM QUANDO MUDAR, MAS NÃO SABEM COMO MUDAR: ESTES SÃO SURPREENDIDOS PELAS CIRCUNSTÂNCIAS.
  3. LÍDERES QUE NÃO SABEM QUANDO MUDAR, MAS SABEM COMO MUDAR: ESTES SÃO ULTRAPASSADOS PELAS CIRCUNSTÂNCIAS.
  4. LÍDERES QUE SABEM QUANDO MUDAR, O QUE MUDAR E COMO MUDAR: ESTES DETERMINAM O PRESENTE E CONSTROEM O FUTURO.

PORTANTO, NÃO ADIEMOS O FUTURO. O MELHOR MOMENTO É AGORA! A HORA É AGORA!

Vamos abraçar a agenda do futuro, a agenda de construção de um País unido e desenvolvido.

Angola precisa da contribuição de todos os seus filhos, patriotas e democratas de todas as convicções político-ideológicas, credos religiosos, simplesmente cidadãos comprometidos com a paz, democracia, liberdade, justiça e verdade eleitoral.

Que todas as nossas energias, talentos e recursos sejam dedicados, em primeiro lugar, para a realização de Angola, como Estado Democrático e de Direito, como país desenvolvido, unido, verdadeiramente reconciliado, livre do medo, da fome, da pobreza e da corrupção.

Que DEUS abençoe Angola e os angolanos!

Luanda, 23 de Abril de 2025.

O Grupo Parlamentar da UNITA

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