Raúl Danda, o Homem Polivalente

Raul Danda

Se existiu um angolano dos mil ofícios, que procurava a excelência no que fazia e era admirado pelos seus múltiplos saberes, esse homem foi, sem sombra de dúvida, Raúl Danda.

Conheci-o na Jamba, talvez em 1985, na altura em que trabalhava na rádio VORGAN com o tio Franco Marcolino — primeiro director da estação emissora. Naquela época, a Voz da Resistência do Galo Negro era a mais escutada nas Terras Livres de Angola, como era denominado o vasto território controlado pela UNITA. Apreciávamos ouvir um spot publicitário na voz do seu Director: “Escutar a Voz da Resistência do Galo Negro também é resistir.”

Importa realçar que, para além da VORGAN, escutavam-se outras rádios, captadas em ondas curtas e médias, como a Rádio Sul-Africana (RSA), a Voz da América, a BBC de Londres e a RFI — ambas em português. Essas rádios eram largamente ouvidas, principalmente pelos mais velhos. A Rádio Nacional de Angola também era escutada, com destaque para o noticiário central das 13 horas, o programa de desportos e o Angola Combatente, depois das 20 horas — se a memória não me falha.

Para os mais jovens, a preferência recaía mesmo sobre a VORGAN e a RNA Desportos. Foi a partir da RNA que o Primeiro de Agosto, o Petro de Luanda, o Mambroa e o Primeiro de Maio de Benguela conquistaram vários adeptos entre os guerrilheiros de Jonas Savimbi, no tempo do conflito armado, antes da assinatura da paz em 1991. Eu, particularmente, tinha escolhido o D’Agosto — e continuo a sê-lo até hoje. Mas tinha amigos do Petro, do Mambroa e do Primeiro de Maio. Escolhi o D’Agosto por causa do grande goleador Ndunguidy. É verdade que os outros clubes também tinham jogadores habilidosos, como Dinis Brinca-na-Areia, Jesus, Maluca, Garcia, Sarmento, Dimas, Carnaval, Napoleão, entre vários. Pelos relatos dos jogos que passavam na RNA, na voz do antigo ministro Rabelais, deu para perceber que eles eram, de facto, excelentes jogadores de futebol — e realmente o foram.

Voltando à VORGAN, tínhamos os nossos programas e locutores favoritos. Raúl Danda era um deles. Fazia programas em ibinda, inglês, francês e português — um poliglota por excelência. Para além disso, era um bom compositor, cantava e encantava com o seu agrupamento musical Estamos a Voltar. Uma das músicas que mais marcaram o nosso tempo foi:

“Quem não vai cantar esta canção da liberdade entoada por Savimbi?…”

Essa música foi lançada na véspera das negociações de paz e apelava à liberdade e à paz, depois de vários anos de sacrifícios.

Como actor de cinema, Danda participou em várias novelas e, como activista cívico, destacou-se na Associação Mpalabanda. A sua veia política falou mais alto, tendo feito um trabalho brilhante no Parlamento angolano, com as suas intervenções patrióticas e pedagógicas.

Infelizmente, o que é bom não dura muito!

O meu maior respeito a Raúl Danda.

Luanda, 08 de Maio de 2025
Gerson Prata

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